Por volta de 1920, a família de Geraldo Coelho Leite deixou o Rio Grande do Sul e partiu em direção ao Centro-Oeste do Brasil. Essa jornada, realizada em carro de boi, durou cerca de dois anos. Infelizmente, durante a travessia pelo Paraguai, o membro mais idoso da família faleceu.
Ao chegar ao destino – Jardim/MS – Geraldo e sua esposa, Almerinda Monteiro Leite, se estabeleceram em uma vasta extensão de terras de aproximadamente 7.500 hectares, formando a Fazenda Divisa e a Fazenda Santa Maria. Nessas terras, a família praticava pecuária e agricultura de subsistência. Eles também pescavam e se divertiam nos rios da Prata e Olho d’Água. Segundo Carlos Marcio Monteiro Sá, neto de Geraldo, várias famílias viviam próximas à nascente do Olho d’Água.
Com o passar dos anos, as terras foram divididas entre os nove filhos de Geraldo. Leta Monteiro Sá, casada com Iber Gomes Sá, ficou com a área onde hoje se localiza a Lagoa Misteriosa. A vasta extensão das terras obrigava os homens que cuidavam do gado a improvisar para beber água durante o trabalho. Muitas vezes, eles desciam até uma lagoa e, enquanto bebiam, percebiam a água borbulhando misteriosamente. Além disso, ouviam sons vindos do buraco da caverna, embora ninguém estivesse lá. Por causa desses fenômenos, Iber Sá batizou o local de Lagoa Misteriosa, nome que perdura até hoje.
Na Fazenda Cabeceira do Prata, há um cemitério histórico com 11 mausoléus, onde os falecimentos datam desde 1921. As pessoas enterradas ali pertenciam à família que se estabeleceu na região. Curiosamente, todos os enterros da época, exceto o de Holmes Monteiro Leite em 1979, foram realizados com carro de boi.
Os túmulos seguem um padrão semelhante, como mostrado na figura 01, do túmulo localizado na Fazenda Cabeceira do Prata, e na figura 02, do túmulo de Selvino Jacques, na Fazenda Aurora.
A família mantinha contato direto com Selvino Jacques, um famoso bandoleiro da região, que também era de São Borja, no Rio Grande do Sul. Apadrinhado por Getúlio Vargas, Jacques foi encarregado de expulsar paraguaios e posseiros das proximidades da fronteira brasileira. Ele chegou à região de Bonito em 1933, visitava a Fazenda Divisa e era bem recebido pela família, que lhe oferecia abrigo, comida e cuidava de seus cavalos.
Além disso, a fazenda foi cenário de passagem de Solano López, que utilizou o Rio da Prata em suas viagens.
A família que residia nessas terras ainda vive na região do município de Jardim. Há um parentesco entre Geraldo Coelho Leite, um dos pioneiros na região, e Laucidio Coelho, avô do atual proprietário da Fazenda Cabeceira do Prata, onde hoje se localiza o Recanto Ecológico Rio da Prata.